A maioria dos eleitores que votaram há umas semanas no recém-eleito presidente da câmara de Nova Iorque ainda não tinha nascido, quando Emídio Rangel dizia nos anos 90 do século passado, na SIC, que, com 50% de audiência, podia “vender” um Presidente da República como se vendiam sabonetes.
O que mais me agrada nesta frase é o facto de hoje ter perdido a eficácia quanto ao seu propósito original (promover um canal de televisão), mas continua estranhamente atual quando falamos em eleger presidentes.
Por duas razões. Olhemos para ela por partes, dissecando-os, como diria Hannibal Lecter.
1 – o conceito de “vender” que tanto choca politólogos, jornalistas e cidadãos, nada mais quer dizer do que “planear, criar e executar uma estratégia para gerar adesão às ideias do candidato (ou sabonete)”, ou seja: marketing.
2 – para o sucesso do ponto anterior, é fundamental cumprir as regras e boas-práticas aplicadas na promoção de produtos comuns como (presidentes) sabonetes.
Tchanammmm!
Para quem trabalha em marketing e publicidade, isto é óbvio. Para os outros é um escândalo. Mas, eleger um presidente, começa por promover os seus atributos, destacar os valores, criar uma mensagem unificadora e usar os melhores canais para chegar às pessoas, conquistando-as.
Voltemos ao exemplo do recém-eleito presidente da câmara de Nova Iorque.
Nota prévia: não conheço nenhum dos candidatos, nem as suas propostas políticas, mas o senhor com o nome difícil de dizer foi muito mais esclarecedor quanto às suas propostas, tinha uma mensagem forte e interessante para o target e contratou uma equipa capaz de criar comunicação que se destaca do habitual (chato, desinteressante, básico).
O seu staff criou uma ideia de esperança e positividade que tinha por base o sorriso constante do candidato e um estilo gráfico tipo super-herói da Marvel.
Tudo na campanha deste sabonete tinha que ver com vantagens para o target. Mamdani Soap era positivo, sorria, tinha humor, ouvia o que as pessoas diziam, agradecia, apresentava propostas concretas… estava ao nosso alcance e era um de nós (deles, no caso).
Graças a um (aparentemente) bom produto e a uma estratégia pensada de baixo para cima (do porta-a-porta para o púlpito) e brilhantemente executada, foi preciso suspender por duas vezes a recolha de fundos, porque tinha ultrapassado o limite legal permitido.
Para além disso, conquistou as várias eleições necessárias e, subitamente (9 meses depois), um socialista muçulmano é eleito presidente da meca do capitalismo.
Quanto ao desempenho nacional das candidaturas e campanhas das recentes eleições autárquicas e futuras presidenciais, nada a dizer.
Infelizmente.
Ponto 3 – escolher bons profissionais de marketing, design e publicidade.

Deixo alguns exemplos de acções de campanha e um artigo interessante que mostra a luz desta estratégia:
Artigo Guardian – https://www.theguardian.com/us-news/2025/nov/06/zohran-mamdani-campaign-new-york-democrats
Vídeo Mamdani passagem de ano – https://www.youtube.com/shorts/v6Ebo17Mc-M
Torneio de futebol Mamdani (o layout é maravilhoso) – https://www.zohranfornyc.com/colclassic
Pedipaper Mamdani – https://www.youtube.com/watch?v=E_DO5Ig4Pi8
