Está a acontecer com a publicidade o mesmo que aconteceu com a pêra rocha, as douradas, as calças de ganga ou os automóveis eléctricos.
Ou seja, produz-se cada vez mais publicidade de plástico ou, melhor dizendo, publicidade de fibra.
Linda, com o tamanho e peso certos, capaz de servir a todos e parecer-se com todos. Um verdadeiro primor por fora, mas com o exacto problema das novas pêras, douradas, moda… ou seja: vazia por dentro.
A publicidade de fibra é um produto impecavelmente desenhado, capaz de ser produzido em massa, com acabamentos de alta qualidade e hiper definição. É elástico, versátil, fácil de moldar a todos os desafios e de rápida implementação.
Mas não traz alma.
Não traz erro e o erro é exactamente o que nos torna humanos.
A perfeição, dizem, é para os deuses. Mas, até eles, não resistem à tentação e em todas as religiões há relatos de avistamentos e interacções com os humanos.
Como tudo o que é demasiado perfeito, a publicidade de fibra gera desconfiança.
Como tudo o que é mecânico, afasta.
Como tudo o que é massivo, desvaloriza.
Como tudo o que é sintético, arrepia.
Basta olhar, por exemplo, para o que a Coca-Cola nos ofereceu neste Natal.
Primeiro um filme com todos os ingredientes de sucesso, mais a novidade de ser feito totalmente por plataformas de inteligência artificial.
Ora, esta obra foi notícia exacta e exclusivamente por ter sido feito por inteligência artificial.
Não por ter sido um sucesso.
Não por ter comovido toda a gente.
Não por estar a ser partilhado sem parar.
Nada disso.
A única notícia é que foi feito por inteligência artificial.
O importante não era, portanto, o que dizia, mas como tinha sido feito.
A novidade não era a visão, mas a execução.
Felizmente surgiu uma segunda vaga de comunicação da marca onde o destaque é a mensagem: O mundo precisa de mais Pais Natais.
Claro que também usaram plataformas de inteligência artificial para criar esta campanha. Tal como usaram telemóveis para comunicar entre si, lápis nalguns (poucos) casos para escrever recados e ideias, computadores, cadeiras, mesas, … Mas usaram, principalmente, cérebros humanos e a sua inteligência natural como elemento base para guiar todas as ferramentas e não o oposto.
Parecendo que não, fez toda a diferença.